08/01/2011

Oração da Felicidade

O futuro a Deus pertence, e tudo não passa de um estado de espírito.
Não nos cabe tentar enxergar além do que podemos ver. Pro nosso próprio bem.
Amém.

O Guia do Mochileiro Das Galáxias

"Uma das coisas que Ford Prefect jamais conseguiu entender em relação aos humanos era seu hábito de afirmar e repetir continuamente o óbvio mais óbvio. De início, Ford elaborou uma teoria para explicar esse estranho comportamento. Se os seres humanos não ficarem constantemente utilizando seus lábios - pensou ele -, eles grudam e não abrem mais. Após pensar e observar por uns meses, abandonou essa teoria em favor de outra: se eles não ficarem constantemente exercitando seus lábios - pensou ele -, seus cérebros começam a funcionar. Depois de algum tempo, abandonou também essa teoria, por achá-la demasiadamente cínica, e concluiu que, na verdade, gostava muito dos seres humanos. Contudo, ficava muitíssimo preocupado ao constatar como era imenso o número de coisas que eles desconheciam."

Por Maria Bethânia.

"Eu sei de muita coisa que não vi.
E vocês também, eu sei.
Não se pode dar uma prova de existência daquilo que é mais verdadeiro.
O único jeito é acreditar. E acreditar chorando.
Esse show acontece em estado de emergência e de calamidade pública.
Trata-se de um show inacabado. Porque lhe falta resposta.
Resposta essa que espero que alguém no mundo me dê.
É um show em techinicolor.
Pra ter algum luxo, por Deus. Que eu também preciso.
Amém. Pra todos nós."

Indagação.

- Você é um homem ou um rato?
- Ratos são governados, senhor?
- ?

A Arte De Ser Feliz

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz.
Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas.
Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse.
E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lopes de Vega.
Às vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.
(Cecília Meireles)

Outras palavras

"Só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal.
Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas...
E, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro."

Lou Andreas-Salomé.

Caderno de Turismo

"Zé, essa é boa.
O que danado a gente vai fazer em Lisboa? Bariloche e Shangri-lá? Traslados para lá. Para cá. Travessia de barco pelos Lagos Andinos. Nunca tinha ouvido falar em Viña Del Mar, Valparaíso. A gente não devia sair do lugar.
Quem já viu se aventurar na Ilha do Cipó? Ilha do Marajó? Itacaré? Fugir de dentada de jacaré? O que você quer, homem? Sem dinheiro, chegar onde? Não tem sentido. Oklahoma, nos Estados Unidos. É delírio. Peregrinar até as múmias do Egito.
Que história é essa de cruzeiro marítimo? Caribe, Terra dos Vikings, Mediterrâneo? Enfrentar o Oceano Atlântico? Canadá, Canaã? Deserto de Atacama? Que besteira! Ir para Bali, Beijing, Xian, Xangai, Hong Kong.
Zé, olhe bem defronte: que horizonte você vê, que horizonte? Pensa que é fácil colocar nossos pés em Orlando? Los Angeles? Valle Nevado? Que língua você vai falar no Cairo? Em Leningrado? Nem sei se existe mais Leningrado.
Zé, esquece.
Nada de Andaluzia. Tahiti. A gente fica é aqui. Que Sevilha? Roteiro Europa Maravilha. Safári na África pra quê? Passar mais fome? Leste Europeu, Escandinávia, PQP.
Presta atenção: a gente nem conhece o Brasil direito. Bonito, Chapada Diamantina. Dos Veadeiros. A América Latina. Guiana e Guiana Francesa. Não existe beleza. Rota do Sol. Rota das Estrelas. Perca. Atrase a viagem, Zé. Não parta.
Você não vai para a ilha de Malta, não vai. Eu não deixo. A vida da gente é aqui mesmo. Sempre foi aqui mesmo. Não nascemos no Berço da Civilização, Istambul e Capadócia.
Zé, o que deu na tua cabeça? Ora, joça! Estamos Longe de Miami, homem. Acapulco e Suriname. Nosso destino é um só. A gente não tem dólar. A gente não tem cartão. Deixa de imaginação. Você não tem medo de avião? Tanta asa que cai pelo chão. Atentado, bomba em Bengasi, doença em Botsuana.
Zé, estou sendo franca: olha bem pra nossa cara.
Por que partir para Dinamarca? Caracas? Cancún, Congo? Cachorro a gente enterra em qualquer canto. Enterra aí no quintal, Zé. E pronto."



Marcelino Freire